sábado, 21 de maio de 2011

Síndrome da Adolescência Normal

Hoje fiquei com vontade de escrever um pouco de algo que convivo diariamente e que é motivo de alegria pra mim.

O trabalho com adolescentes surgiu pra mim como uma fusão de coisas que eu gostava. Uma medicina muito mais ampla que sintoma/doença/remédio. Que enxerga o indivíduo como um todo, onde corpo, mente, ambiente estão integrados. Através da Hebiatria (medicina do adolescente) eu encontrei um trabalho que me instiga e me faz acreditar no que estou fazendo. Então aí vai o primeiro post sobre adolescentes...


A adolescência é quando a personalidade se forma, as opiniões surgem, existe um desejo enorme de mudar, de fazer diferença. Sendo assim é uma fase, pelo menos pra mim, encantadora.

Trabalhando com adolescentes porém o que vemos são pais, professores, e quem quer que esteja perto do adolescente muitas vezes perdidos. Não é raro que a escola ou a família busquem o serviço de saúde almejando tratamento psicológico pra situações que na maioria das vezes são esperadas pra idade.

Certamente não é fácil pra família lidar com a perda daquela criança. Mas também não é fácil pro adolescente deixar de ser criança.

Costuma-se dizer que na adolescência vivem-se 3 lutos: a perda do corpo infantil, a perda dos pais da infância e a perda da identidade e do papel infantil. E existem 10 características que em adolescentes são totalmente esperadas, conhecidas como Síndrome da Adolescência Normal. São elas:

Busca de si mesmo e da identidade adulta
Através da elaboração dos 3 lutos característicos dessa idade o adolescente busca constantemente a desejada identidade adulta, o "quem sou eu", que ele só vai encontrar no final do processo.

Tendência Grupal
O adolescente pertence ao grupo mais que a familia, assim sendo a opinião e costumes do grupo passam a ser prioritários pro adolescente. Ser aceito no grupo é prioritário.

Necessidade de intelectualização, fantasia e saída do presente
É um mecanismo de defesa e de pensamento típico da idade, grandes planos são elaborados, a imaginação predomina. Desse pensamento muitas vezes surgem mudanças reais que impulsionam a evolução humana.

Crises religiosas
Desde misticismo, ateísmo, fanatismo religioso. Muitas vezes o mesmo adolescente experimenta vários comportamentos religiosos.

Distemporalidade
Algumas coisas são urgentes (comprar uma mala pra uma viagem daqui 1 semana) outras nem tanto (estudar pra prova de hoje a tarde)

Evolução sexual
Desde inicio da descoberta do corpo e do prazer sexual até a busca de parcerias, jogos de conquista, amor romântico, paixões intensas e fugazes

Atitude Social Reivindicatória
a melhor caracterísica do adolescente na minha opinião. Nessa idade os absurdos socias, as divisões de classe injustas, as burocracias, etc, são alvo de revolta e de atitudes que infelizmente são coibidas por adultos conformados e coniventes com o padrão social vigente.

Contradições sucessivas de Conduta
Por todas as mudanças físicas e emocionais que está passando o adolescente não tem como manter uma postura rígida e continua. Logo as mudanças constantes são tanto esperadas como necessárias.

Separação dos pais
Feita de maneira gradual ou abrupta é uma característica que frequentemente incomoda em demasia a família que se sente perdendo o adolescente. Porém pra que se construa a própria identidade é primordial que esse afastamento ocorra.

Flutuações do humor com predomínio depressivo
Uma conquista pequena leva a uma alegria e comemoração enorme. Um pequeno contra tempo tem o efeito inverso e leva a tristeza também "desporporcional". Isso várias vezes ao dia, leva a choros e euforias frequentes que muitas vezes preocupam a família. Importante diferenciar a labilidade emocional de depressão real que possa precisar de tratamento adequado.

Essas características todas, que se apresentam em maior ou menor intensidade individualmente, são essenciais pra que se possa sair de uma personalidade infantil e se alcançar uma personalidade adulta. E muitas delas são tão especiais que se as mantivéssemos ao longo da vida muita coisa seria melhor pra nós e pro mundo ;-)




quinta-feira, 19 de maio de 2011

Um dia diferente

Estou em uma fase da vida de muitos questionamentos. Uma amiga querida me disse que isso é uma crise dos 30 atrasada, já que na época que eu tinha trinta engravidei e o foco se voltou pra gestação/bebê. Não sei se é isso ou se caiu uma ficha, um raio na minha cabeça mas há cerca de 1 ano eu me descobri uma pessoa perdida.

Tá bom não vamos exagerar demais nas colocações. Não estou totalmente perdida. Tenho uma casa, um emprego (na verdade 3), um filho, um marido. Tenho amigos. O "perdida" aqui seria mais um questionamento de qual o meu propósito no mundo.

Um dia escrevi em um papel: O que eu realmente quero?

A resposta foi angustiante porque coloquei alguns bens materiais, algumas coisas que eu pretendia, mas olhando aquele papel ele me pareceu extremamente vazio. E assim ligou-se em mim uma inquietação.

Então no começo desse ano de 2011 minha meta única foi descobrir: o que eu realmente quero?

E confesso que estou realmente empenhada nisso. Nunca refleti tanto, nunca pensei tanto... resolvi resgatar tudo que um dia me parecia importante, resolvi prestar atenção em tudo e ver onde as coisas estavam se perdendo.

E sendo assim me vi desesperada por um tempo sozinha. Um dia sozinha, algumas horas sozinha!
Percebi que eu nunca estou sozinha. Sempre tem alguém comigo, meus únicos momentos de "solidão" são no carro a caminho do trabalho. E eu tratava de preencher logo esse "vazio" ligando pra alguém, então na verdade eu estava com alguém ainda que esse alguém estivesse longe.

Passei a me policiar com relação a isso para que esses minutos (que não são tão poucos assim visto que moro em SP) de trânsito se tornassem meu momento especial. Um momento só meu, onde eu penso, escuto música bem alto, tento me libertar.

E assim surgiu uma vontade nova: um dia todo sozinha! Quanto tempo fazia que eu não passava um dia inteiro sozinha? Pois bem, resolvi botar em prática, achei que eu merecia esse momento e organizei um dia OFF, só meu, sem planos, sem nada... só desfrutando a solidão!

Hoje foi esse dia. Avisei no trabalho que não iria, mas mantive a mesma rotina diária. Gustavo foi pra casa da minha mãe e eu saí meio sem rumo.

Levei comigo meu livro do momento: Comer, Rezar, Amar. Abro um parênteses porque sei que muita gente acha uma idiotice esse livro e a busca interior que se tenta após lê-lo. Mas em minha defesa eu digo que: 1) Minha busca interior começou muito antes de qualquer livro, já que o comprei há apenas 1 semana 2)não vi o filme (o que é um mistério já que eu sou bem tontinha pra filme e amo tudo que envolva Julia Roberts) e na verdade cheguei até o filme através da trilha sonora. Acho que Eddie, meu guru (como disse a mesma amiga querida da crise atrasada dos 30), de alguma forma me apresentou pro livro. Eu fã total da música Better Days que tem uma letra que exprime exatamente como tenho me sentido nesses últimos meses fui colocar o clipe dela em uma brincadeira do Facebook chamada 30 Day Song Challenge e tive um clique! O filme fala de algo que eu aparentemente estou vivendo, então me interessei por assitir. Porém sempre que um filme é feito de um livro eu prefiro ler primeiro o livro porque muito se perde nos filmes e o caminho inverso (primeiro filme e depois livro) me parece ilógico. Pois bem a música me apresentou o clipe que me apresentou o filme que me lembrou do livro e bingo estou eu lendo Comer, Rezar, Amar.

Voltando ao dia de hoje...

Saí e fui a um café onde fiquei por cerca uma hora lendo, comendo pão de queijo e tomando chocolate quente! Sem preocupação com horário, sem pensar em nada a não ser no momento. Saindo de lá fui a um parque que eu adoro mas nunca vou apesar de ser tão perto de casa. Sentei em meio as árvores, li mais um pouco, ouvi música (minha terapia!), andei com cheiro de terra molhada adentrando meus pulmões e me dando uma alegria meio desmedida.

Resolvi então ir até a Avenida Paulista, andar um pouquinho no meio de montes de desconhecidos e visitar alguns quadros queridos no MASP. Ir à Av Paulista não combina com carro então deixei o meu no estacionamento e segui de metro.
Fui calmante sentada (luxo porque não era horário de pico), andei pelas largas calçadas, visitei alguns quadros de Renoir, Delacroix, Degas, Van Gogh, Picasso, Monet... me senti muito feliz de estar ali sem obrigação de nada, apreciando só por prazer mesmo, tentando sentir e não entender o que quer que fosse...

Meu dia teve também sorvete, lasanha, banho demoradíssimo com sabonetes e cremes especiais que juro são capazes de causar sensações maravilhosas.

E aí voltei à vida "normal"... busquei o Gustavo, pintamos, brincamos de carrinho, ele me fez ficar horas no quarto pra dormir... vida que segue. Mas de alguma forma algo certamente mudou. Não hoje apenas. Não uma mágica, mas pequenas coisas que podem fazer diferença e quem sabe te fazer se encontrar no mundo, ainda que não totalmente. A vida as vezes se torna tão mecânica que você se perde na rotina, vai fazendo menos e menos coisas prazerosas e mais e mais coisas "importantes e responsáveis" e isso tudo vai se acumulando de tal forma que chega-se a um ponto que não se consegue mais reconhecer o que de fato nos dá prazer, o que de fato gostamos.

E nesse sentido o dia de hoje foi especial, uma tentativa de resgate, como colocar a cabeça fora da água quando se ficou com a respiração presa por muito tempo. Que isso seja uma parte pequena de uma grande mudança!