sábado, 2 de julho de 2011

"Sem a música, a vida seria um erro"*

* Friedrich Nietzsche

Eu não sou música, não toco instrumentos, não canto. O mais próximo disso que cheguei foi estudar um pouco de piano quando adolescente. Infelizmente, ou felizmente, minha relação com a música fica em outro plano. E tenho que dizer que esse plano é um plano superior, quase sagrado.

Minha primeira recordação afetiva relacionada a música é estar sentada no chão aos 4 ou 5 anos ouvindo Stairway to Heaven tocada no violão de meu pai. E que recordação doce! Led Zeppelin entrou cedo na minha vida pra nunca mais sair. Tive essa sorte de tão cedo conhecer uma das maiores bandas do mundo.

Entretanto foi na adolescência que a música começou a ter uma real importância na minha vida. Foi aí que comecei a encontrar nela acalento e resposta pra minhas angústias.

"Quero um machado pra quebrar o gelo, quero acordar do sonho agora mesmo, quero uma chance de tentar viver sem dor" me dizia Thedy aos 12 e eu me fortalecia pra lidar com os novos sentimentos que bagunçavam a minha cabeça. Renato dizia " Sou uma gota d'água,sou um grão de areia, vc me diz que seus pais não lhe entendem, mas vc não entende seus pais" e era tão verdade.

E então a primeira grande banda entrou na minha vida: Guns and Roses. Eu com 13/14 anos me apaixonei (de verdade!) pelo Axl Rose e passei a devorar tudo que tivesse relação com eles. E muitos posteres, muitos recortes de jornal, muita revista Bizz. Estávamos em uma era pré internet e nos primórdios da MTV no Brasil. Quantos clipes eu assisti suspirando!

O Guns trouxe pra mim além de uma paixão, o interesse pelas letras em inglês, e isso tem uma importância gigantesca no rumo das coisas a partir daí. Eu, que até então tinha dificuldade no inglês fraco do ensino fundamental (ginásio!), passei a ter facilidade em entender o idioma. Tanto por decorar e traduzir as letras como por ler as revistas importadas que eu as vezes conseguia comprar. Acho que não seria exagero afirmar que o inglês que eu sei hoje (que confesso não ser perfeito, mas que dá pra se virar) me foi dado pela música!

E foi com Guns que eu tive a primeira experiência em ver um ídolo tocando ao vivo. E como foi incrível! Assistir a um show pra quem tem um apego musical como eu tenho é uma vivência única. Uma liberação pro espírito, uma elevação da alma. Tenho uma lembrança clara desse dia inteiro, do show e da euforia depois dele, caminhando pro estacionamento no meio da multidão, falando sem parar, emocionada.

Nessa época entrou na minha vida o Pearl Jam. Me encantei imediatamente pelas músicas e pelas letras de Eddie Vedder. E não foi uma paixão, foi um encantamento real. Dessa vez eu não queria me casar com Eddie, eu só queria ouvir o que ele tinha a dizer. E como ele tem coisas a dizer. E como eles diz coisas como ninguém!

Seattle passou a ser referência pra mim. Não só Pearl Jam, mas Soundgarden, Alice in Chains, Nirvana... e fora de lá Blind Melon.

"Even flow, thoughts arrive like butterflies, Oh he don't know, so he chases them away, someday yet, he'll begin his life again"

"Head at your feet, fool to your crown, fist of my plate, swallowed it down, enmity gauged, united by fear, tried to endure, what I could not forgive"

E aí eu já estava totalmente envolvida. Coisa de adolescente? Poderia parecer, mas não era. Cá estou com mais de 30 e ainda absorta.

Quando tudo está bem eu escuto música como todo mundo. No rádio, de vários estilos. Mas quando as coisas não estão fáceis escuto repetidas vezes a mesma música. Perdi as contas dos conselhos que "recebi" de Eddie Vedder. Das vezes que fui consolada por ele. Do quanto ele me inspirou. Além dele me socorrem Thom Yorke que, ainda que muitos digam que faz músicas que dão vontade de se matar, escreve coisas maravilhosas e Shannon Hoon que partiu tão cedo mas deixou coisas tão profundas e sábias escritas que passados mais de 15 anos ainda recorro a ele em momentos de desespero emocional.

Gosto e gostei de muitas outras bandas como Coldplay, Oasis e Aerosmith por exemplo que ouço sem compromisso, sem nada além de diversão e distração. E isso também é ótimo, tive a oportunidade de ver essas bandas ao vivo e foram shows incríveis, momentos de êxtase. Entretenimento puro.

Em 2005 depois de cerca de 13 anos de espera tive a oportunidade de ver ao vivo a maior banda do mundo. Poucas pessoas entendem o significado disso na minha vida. Poucas pessoas entendem o porque de eu ter me mobilizado pra ver o maior número possível de shows. "Shows iguais?" "Gastar dinheiro viajando pra ver uma banda que tocará DUAS vezes aqui em São Paulo?"

Foram 6 dias intensos, emocionantes e inesquecíveis. 3 vôos, 4 shows, e um vulcão de sentimentos. Passados quase 6 anos a lembrança dessa semana ainda me dá frio na barriga e vontade de chorar de emoção.

Eu gostaria de ser capaz de descrever a experiência de ver diante de mim Eddie Vedder, Stone Gossard, Jeff Ament, Mike McCready e Matt Cameron. Mas não sou. Nem que eu passe horas ou dias tentando. Então vou apenas dizer que naqueles momentos era como se o resto do mundo não existisse, como se na minha cabeça não houvesse mais nada a não ser o que estava acontecendo naquele instante.

Em 2009 Radiohead veio pela primeira vez ao Brasil. E novamente me vi diante de um idolo mór. Não foi a mesma coisa que com o Pearl Jam. Mas foi transcendental, emocionante, maravilhoso. Thom Yorke diante de nós, com toda sua inteligência, com todo seu talento... levei cerca de 3 horas pra conseguir chegar em casa depois do show, mas eu estava tão enebriada pelo efeito dele que nada mais importava.

Desde 2005 espero a prometida volta do Pearl Jam ao Brasil. "Dois ou três anos, talvez um" me disse Eddie Vedder durante um dos shows. Mas lá se vão quase 6 anos. Nesse tempo eu vivi bem com a espera. Continuei ouvindo as músicas como mantras... e tudo ia bem até o começo desse ano.

Surgiu então uma necessidade enorme de vê-los novamente. Até sei o porque, mas fato é que isso coincidiu com uma enxurrada de boatos sobre uma nova vinda ao Brasil. A cada novo boato uma nova ansiedade. Datas e locais sempre de fontes duvidosas divulgados a todo momento. Por sorte não estou sozinha. Ganhei de presente em 2005 amigos que compartilham da mesma paixão que eu e que tem sido minha salvação esses dias. E se pra todo o resto da humanidade pode soar ridículo se angustiar por um possível show, pra eles (e pra mim é claro) isso é normal. Surto coletivo é muito melhor! Principalmente quando seus companheiros de surto são pessoas que você admira muito em tantos outros aspectos além do bom gosto musical.

E sigo aguardando um provável anuncio de show ouvindo todo dia a voz que me acompanha há quase 20 anos. E outras vozes que me acompanham há mais ou menos tempo, mas que são parte de minha vida tanto quanto meus amigos e minha família. Que muitas vezes souberam como ninguém me mostrar caminhos, soluções, que me deram e me dão força quando eu preciso, me distraem, me divertem. Sem ligar muito pro que outras pessoas possam achar disso. Se é loucura ou não pouco importa. Pra mim é natural e sendo assim é o que basta.

2 comentários:

  1. AÍ SIM, BABI. Mesmíssima coisa aqui. Acho que nem preciso escrever sobre o quanto me identifico. Beijo grande e haja ansiolítico...

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  2. Vocês são as únicas pessoas que, quando eu digo que vou viajar pra ver um novo show, não reagem dizendo: mas você, hein, não perde um! não cansa?

    Vamos continuar nossa terapia em grupo! Vamos ver outros shows juntos! Daqui a uns anos voltaremos a surtar juntos! Com o PJ onde o PJ estiver [gostei dessa minha invenção medonha de parafrasear o hino do Grêmio! hehehehe]

    :*

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