terça-feira, 24 de janeiro de 2012

13/11: La Plata.


O que aconteceu nesse dia todo, o clima de encantamento, o significado de tudo isso é muito difícil de explicar. Passados mais de 2 meses ainda abro um sorriso quando penso nisso.

De Buenos Aires pra La Plata dava pra ir de trem, mas da estação pro estádio não era tão perto e nós não sabíamos como ir. Depois de um almoço super "requintado" em um boteco qualquer (tudo fechado por lá) descobrimos que o modo mais fácil era pegar um ônibus, o que seria ótimo se nós tivéssemos moedas. Junta daqui e dali, compra qualquer coisa pra trocar o dinheiro, pede pelo amor de Deus pra que o jornaleiro troque os 2 pesos que faltavam e finalmente pegamos o ônibus e chegamos ao estádio, o mais lindo da turnê.

O público a Argentina é conhecido por ser o mais animado de todos o que era empolgante pra nós mas que por outro lado criou um certo pânico de como seria quando o show começasse. As meninas acharam que ficando na grade (do lado do Mike) era mais seguro pois tinha um escape caso algo acontecesse. Diego e Carlos queriam ficar no meio, viver o "campo delantero" em toda sua magnitude, participar do perrengue (ficando na direção central , não na grade, mas bem próximo do palco)

E eu decidi que eu tb queria ficar no meio de onde tudo acontece, não tive medo de ficar ali, não pensei em consequências tb. E assim nos dividimos e cada um dos dois grupos viveu uma emoção diferente nesse dia.

Pra nós que ficamos no meio foi assim: durante a espera conhecemos um casal de argentinos muito legais, Luciana e Mario e ficamos conversando. Perguntamos algumas vezes se era muito brutal, se dava pra aguentar. Dissemos uns aos outros que era seguro, "ah olha aquela menina, super pequena se ela aguenta eu também". Combinamos também que o show do X seria um termômetro de se daríamos conta.

Começou o show do X. Tudo relativamente tranquilo. Nada de empurrões. Na última música porém, assim como em Curitiba e Porto Alegre, Eddie Vedder resolveu entrar pra cantar junto. Na hora que ele entrou no palco uma onda nos empurrou pra frente. Mas foi uma música só, nada demais, todos em seus lugares novamente aguardando o show começar.

Eles sobem ao palco e começam com Release. Senti uma onda me levando pra frente e pra trás. Não tive medo de cair pq achei que nem em sonho haveria espaço ali pra que eu caísse. Como os Argentinos não são um povo muito alto eu não senti faltar o ar, mas acho que nunca me senti tão próxima de outras pessoas no sentido físico mesmo. Uma sensação de compressão no tórax.
Ao mesmo tempo que estava acontecendo essa avalanche estávamos vendo, pela última vez nessa tour, a nossa banda dos sonhos. Sendo assim a atenção tinha que ser dividida. Era algo como "talvez eu seja esmagada, mas preciso cantar!" E isso tudo em Release. Uma música "calma".

Começa a segunda música: Tan nan nan nan nan nan GO. Achei que talvez eu fosse realmente morrer. Go em SP foi perrengue. Imagina Go perto do palco, no centro da pista na Argentina. Ao mesmo tempo eu não pude não gostar, simplesmente pq eu adoro essa música. E se em Release a onda me levava pra frente e pra trás em Go isso se multiplicou. De tempos em tempos olhávamos um pro outro meio que checando se todos estavam bem. A nossa expressão facial era uma mistura de emoção, medo, euforia. Sobrevivemos em Go (ufa!) Um coro enorme já tomava conta do estádio, que tem uma acústica incrível. Instellar Overdrive... Corduroy! The waiting drove me mad. Acredito que foi aí que começamos a recuperar um pouco a consciência, e percebemos que brincar de "aqui ninguém passa" no campo delantero parecia não ser uma opção muito saudável. Deixamos passar (e eu odeio fazer isso) principalmente porque a intenção era ver o show e não passar 2 horas e meia lutando pra ficar vivo. Emendou-se Hail Hail mas aí as coisas já estavam mais calmas. O lugar que ficamos era justamente onde abriu-se uma roda. A roda lá é muito mais legal que a daqui (ou será que eu estava muito mais envolta em emoções?). Pudemos sentir e participar de tudo, meio que sem acreditar acho. Nos misturamos com o público de lá, gritamos, cantamos, entramos na roda. "Ooooo ooooo ooooo" em Given to Fly. Estamos aqui cantando acordes? Está acontecendo?

Em vários momentos eu virei pra trás pra assistir ao público, pra ver as ondas, o coro que vinha de todos os lados. "Ole ole ole, ole ole ola, ole, ole ole cada dia te quiero mas, Soy Pearl Jam es un sentimiento no puedo parar"

Não tiveram "tantas músicas diferentes" pra quem estava vendo seu sexto show em 10 dias, mas teve Smile. E pudemos cantar a frase que significava exatamente o que eu já estava sentindo: "I miss you already, I miss you always".

Quado começou Alive eu chorei por tudo que significava estar ali ouvindo essa música, a que me fez me apaixonar por eles, e que 20 anos depois ainda é capaz de despertar tantas emoções. Chorei também pq eu sabia que estava acabando. Mas não era tristeza, era uma sensação de realização, de ter vivido uma experiência intensa, única.

No final Yellow Ledbetter e lágrimas de despedida. O sonho que havia se tornado realidade. A sensação de libertação.

Nos encontramos novamente e contamos uns aos outros o que tinha sido o show visto de lugares diferentes, todos MUITO empolgados. Não havia como não estar assim.

E aí lembramos de um pequeno porém. Não sabíamos como ir embora. Parada em uma loja de conveniência pra se hidratar, descobrimos que haviam ônibus que saiam dali pra Buenos Aires. Depois de uma fila enorme conseguimos pegar o último ônibus, e já em Buenos Aires nos aventuramos buscando táxi pro hostel.

Acabava o dia mais sensacional de todos os tempos. Foi Carlos quem definiu melhor que qualquer outro o que tinha sido esse 13/11: "foi o dia que esqueci que o mundo existia e vivi como se não houvesse amanhã... foram as 24 horas mais livres da minha existência". Não poderia concordar mais.

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